Em 2017 tive a oportunidade de participar de um workshop com o fotógrafo Araquém Alcântara. Na época eu não tinha ideia de quem ele era, nunca havia ouvido falar dele antes. O que me levou ao workshop foi o tema “fotografia de natureza”, que praticava já há algum tempo.
Aconteceu em um final de semana de março no auditório do Museu Pelé, em Santos/SP. Fazia apenas alguns meses desde que eu havia comprado uma Canon T5i, minha primeira câmera DSLR, que me dei de presente quando completei 40 anos. Sou uma amante da fotografia desde a infância mas, como muitos sabem, fotografar custa caro 😬 ; isso é verdade especialmente para os nascidos no século passado, muito antes da câmera digital se tornar acessível… Na época do workshop eu tinha apenas essa câmera (considerada uma câmera profissional de entrada) e 2 lentes: uma Canon EF-S 18-55mm f/3.5-5.6 IS STM, que veio com a câmera, e uma Canon EF-S 55-250mm f/4-5.6 IS STM, que me possibilita fotografar aves, algo que gosto muito e foi grande motivador da compra da câmera.
Acho que a maioria dos outros participantes tinha um equipamento muito melhor do que o meu, mas não me senti intimidada por isso. Como já dizia o Popeye:
"Eu sou o que sou e é isso que sou!"
Eu acredito no meu talento como fotógrafa e, de certa forma, uma das coisas que busquei neste final de semana foi algum tipo de confirmação de que estava no caminho certo. Afinal, começar um novo rumo aos 40 anos é desafiante. Apesar da minha falta de experiência, não conheço nenhum concurso ou bolsa de fotografia que considere pessoas da minha idade “iniciantes” ou “estudantes” para receber um apoio diferenciado, então o desafio é ainda maior. Sendo assim, sem verba para equipamentos melhores, sem a juventude de alguém em início de carreira e com o dinheiro contado para ir até Santos (eu estava em São Paulo), o que eu tinha em abundância era vontade. E com essa vontade, acordei bem cedo no sábado. Com o dia ainda clareando, fui até o terminal Jabaquara e embarquei em um carro coletivo para ir até o museu.
O Primeiro Encontro
Chegando lá, o Araquém estava na entrada do auditório na companhia de seu assistente e alguns alunos aguardando todos chegarem. Com o clima descontraído, fui me sentindo à vontade, ansiosa por aprender mais sobre esse universo fascinante da fotografia e sem saber muito o que iria se passar nestes dois dias.
Durante o workshop, o Araquém falou bastante de suas experiências e aventuras no mundo fotográfico, compartilhou dicas e conselhos. Saiu conosco para explorar o belo e decadente centro histórico de Santos, que eu ainda não conhecia. E anunciou algo inesperado para todos ali: ele iria escolher e premiar com um de seus livros as 5 melhores fotos feitas pelos alunos durante o workshop. Que oportunidade especial ter esse grande fotógrafo analisando criticamente nosso trabalho!
No sábado à noite retornei para São Paulo, exausta e ainda com muito a fazer: selecionar e editar as fotos feitas nesse dia para mostrar ao mestre no dia seguinte, além de ter que acordar de madrugada para chegar às 7h da manhã do domingo ao centro de Santos. Estava cansada, mas muito motivada por este mundo de possibilidades que ia se apresentando a cada novo aprendizado.
Catraias, moradores de rua, polícia e fotógrafos
No domingo nos encontramos e nos dirigimos ao terminal das catraias. Eu pessoalmente vejo muita beleza e poesia nessa simbiose de um local antigo e decadente e a natureza, ainda que tristemente poluída. Moradores de rua, policiais e um grupo entusiasmado de pessoas com seus equipamentos fotográficos compartilhavam este espaço, que certamente já teve seu tempo dourado em um passado não tão distante. E o Araquém todo o tempo nos acompanhando nesse lugar já conhecido dele. O grupo estava animado em fotografar e mostrar seu trabalho ao nosso mestre motivador. E assim passamos nossa manhã, visitando ainda outras áreas do centro. Após o almoço, retornamos ao auditório do museu para preparar nosso material para o grande momento: passar pelo olhar crítico daquele com tanta experiência e histórias para contar.
Fotos de Gabriel Monteiro
Separamos as 5 melhores fotos que achamos que fizemos naqueles 2 dias e entregamos para seu incansável assistente Gabriel (autor das fotos acima), que nos ajudou todo o tempo. E assim, seguindo a ordem alfabética dos nomes dos participantes, o mestre observava e criticava nossos trabalhos. Inicialmente, ele separou ao menos uma foto de cada um e, aos poucos, foi fazendo sua seleção até restarem 5 fotografias de 5 fotógrafos. E para minha total alegria, uma de minhas fotos ficou entre as 5! Nesse momento eu já estava explodindo de felicidade e empolgação: eu e minha T5i havíamos agradado os olhos experientes do mestre, quanta honra!
Contagem regressiva
Agora ele iria classificar as fotos em ordem decrescente, mais emoção ainda nos esperava! Ele escolheu o quinto lugar, não fui eu. Uau! O quarto lugar, também não fui eu, outro uau! Esperando pelo terceiro, ainda não fui eu! O coração nesse momento já não podia bater mais rápido. Eu e outra fotógrafa aguardávamos ansiosamente o desfecho daquele final de semana especial. A próxima anunciada agora sim era a minha foto. Quanta emoção! Minha foto havia ficado em segundo lugar entre cerca de 25 fotógrafos, muitos deles mais experientes (e equipados) do que eu. Um turbilhão de emoções passando em minha cabeça, enquanto aguardava para receber meu livro autografado e um abraço do mestre, que já tomava ares de amigo depois desse intenso final de semana. E ainda mais uma surpresa nos aguardava: ganhamos um jantar na companhia de todo o grupo. Um desfecho feliz para um marco na vida desta que vos fala. Era a confirmação que intuitivamente fui buscar naquele workshop. Era uma placa no caminho me dizendo: pode seguir por aí que tem coisa pra você. Desde então, tenho me dedicado intensamente à fotografia. Consegui conquistar outros concursos, exposições coletivas, vender trabalhos e até um publicação na comunidade Your Shot da National Geographic.
Ir em busca da realização dos nossos sonhos pode até não nos levar exatamente ao local que imaginamos quando iniciamos a jornada, mas certamente vai nos tirar de onde estamos. Vai nos levar, talvez, até um local melhor do que o imaginado, que nem sequer poderíamos pensar. Acredite e faça, essa é a única maneira - pelo menos que eu conheça…
Quero agradecer de coração ao mestre inspirador Araquém Alcântara e a todos que participaram deste final de semana mágico.
Desejo a você toda força e energia para acreditar em si e nos seus sonhos. Eles se realizam sim!
Todas as fotos são de minha autoria exceto onde houver outra informação.
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